Sam Harris é um escritor respeitado, com um problema comum: como ganhar a vida daqui para frente. Seu tema central é a razão e a fé. Compartilha angústias em seu blog, em um texto que pergunta: do que viverá um criador no século 21?
Está experimentando com um novo formato - livros curtinhos, de 60 ou menos páginas, vendidos exclusivamente em formato digital, através do Amazon Kindle.
Para que escrever um livro de 600 páginas, se um décimo disso é o suficiente para defender sua tese? A única razão por que temos livros tão grossos é porque a indústria do livro não é capaz de vender um livro fininho por um preço pequenininho.
Mas agora temos pouco tempo e muitas distrações. Pouca gente ainda tem paciência de passar horas e mais horas atravessando um livrão em que 90% é gordura. Mais prático assistir o autor resumindo suas ideias no YouTube, em dez minutinhos de palestra.
Melhor bispar os slides, bater o olho no verbete da Wikipedia, fazer uma busca e clicar em qualquer coisa que apareça na primeira página do Google. É um lanchinho, e não a refeição completa. Mas banquete tem hora.
Sam Harris continua escrevendo livros longos, impressos em papel e vendidos em livrarias (e também em versão digital, claro). O mais recente chama-se The Moral Landscape, e não recomendo, porque só vi o vídeo a respeito, mas parece sólido, e gente como Richard Dawkins e Ian McEwan, que li, assinam embaixo.
É mais provável que eu leia seu primeiro livrinho exclusivamente digital, Lying. É focado em um assunto só - mentira, e porque devemos sempre dizer a verdade, custe o que custar. Curtinho, posso baixar hoje e começar a ler já. Se não for tudo aquilo, não perdi grande investimento. Custa só U$ 1,99, o que é um atrativo a mais. Baratinho, né?
Não. É caro, para muitos dos fãs de Harris. Não que eles não tenham dois doletas, R$ 3,60. É que, comparando com o custo de ler o blog dele de graça, parece absurdo. Lying tem uns 50 mil caracteres, o dobro ou triplo do tamanho de um post escrito por Sam para o Blog. Segundo ele, deu bem mais trabalho do que o típico texto que escreve para internet, e é um ensaio, pensado para liquidar seu ponto de vista sobre determinado assunto, e para durar.
Por isso decidiu pelo formato de livrinho digital. Mesmo assim, houve grito. Porque não tem versão para o iPad, Android Market, em papel na livraria da esquina? Por que não é de graça? Lying é um grande sucesso. Entrou na lista do top ten de itens mais vendidos no Kindle, em nono lugar. Harris tem sentimentos ambíguos sobre o resultado, que compartilha em um texto obrigatório para quem se interessa pelo destino das ideias e da comunicação.
Chama-se O Futuro do Livro (leia aqui), somente em inglês. Faz par com outro, chamado O Fim da Web como a Conhecemos, de Adrian Short (leia aqui), também só disponível na língua original. Não concordo totalmente com nenhum dos dois textos - só faltava.
Mas não se lê para buscar confirmação, e sim informação e opiniões divergentes. O que eu já sei, já sei. Conhecimento é conflito. E os dois textos iluminam, por lados diversos, faces diferentes do mesmo desafio, e funcionam melhor lidos numa tacada única.
É revelador que eles não têm relação entre si, fora a que criei. Checando meu Twitter, meia hora atrás, fui como sempre clicando nos links que pareciam mais interessantes, abrindo um após o outro, para depois conferir de uma vez o que há de mais potencialmente provocador, engraçado ou útil. Esbarrei nos textos de Sam e Adrian.
Eu poderia simplesmente passar para frente, via Retweet, ou postar no Facebook, sem contexto. Se não tivesse um blog, simplesmente faria isso. Mas tenho, e é um grande prazer compartilhar ideias, experiências e descobertas inesperadas.
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