Uma pesquisa recente no Reino Unido demonstrou que os jornais sérios estão perdendo muitos leitores e que os jornais sensacionalistas são os únicos que não despencaram.
O site brasileiro Imprensa, inspirado por esta enquete, propôs a seguinte questão a seus leitores: “Você acredita que em um futuro próximo os jornais impressos irão restringir sua cobertura a temas mais sensacionalistas?”
No minuto em que escrevo isso, temos 224 votos, sendo 53% com a resposta "não" e 47% com a resposta "sim". Voto no "não". Aliás, vaticino que os jornais sensacionalistas serão os primeiros a deixar de circular.
Restarão no médio prazo os jornais de prestígio que construírem a melhor combinação entre operações online e versões impressas. No longo prazo, não me arrisco.
O nó da questão não está no número de leitores, e sim no faturamento que vem de anúncios. As assinaturas e vendas em banca há muito não dão lucro para os jornais. Os classificados sempre foram a fonte de receita mais importante, porque cotidiana e pulverizada.
Os consumidores não tinham outra alternativa para encontrar um emprego, um imóvel, ou mesmo uma moça/moço para passar uma meia hora; ou para anunciar estes e outros tipos de produtos e serviços.
A internet, com os modernos sistemas de busca, é muito mais eficiente, rápida e barata que qualquer jornal. Que jornais sofrem mais com o declínio abrupto da receita dos classificados?
Os jornais sensacionalistas, claro, porque nunca foram fortes em atrair grandes anunciantes, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Sofrem também jornais de cidades menores, e os jornais menores das grandes cidades.
O outro tipo de receita importante dos jornais é o de publicidade convencional, anúncio. Em 2010, a publicidade em todos os meios (TV, internet, jornal, revista, rádio, mídia outdoor etc.) cresceu 19%. A publicidade em jornais cresceu só 4%, muito abaixo da média. Mas ainda assim esses números escondem um vetor importante.
Em 2010, cresceu muito a publicidade legal - nome que se dá aos anúncios obrigatórios feitos por empresas, como publicação de balanços, fatos relevantes e tal. Eles precisam ser publicados em jornal, por lei. Como a economia brasileira vem crescendo, e mais empresas têm capital aberto, a publicidade legal cresceu.
A publicidade legal, naturalmente, tende a se concentrar mais em jornais especializados em economia e negócios, ou pelo menos muito respeitados no tratamento deste temas. Se você excluir a publicidade legal do bolo total de publicidade que os jornais tiveram em 2010, tenho certeza que teríamos um cenário bem diferente.
Parece bizarro que ainda hoje seja necessário publicar um balanço em um jornal impresso, e não em um site qualquer, quiçá da própria empresa. Mas é obrigatório, e desconfio que a lei não vá mudar tão cedo - quem vai querer arrumar encrenca com os donos dos maiores jornais do país? Político nenhum, te garanto.
Essa é a primeira grande razão porque jornais de muito prestígio em economia continuarão a existir em forma impressa; a segunda grande razão é que eles têm uso profissional, e portanto, muitos leitores os leem dentro da empresa, que é quem paga pelas assinaturas.
O Brasil tem mais uma razão para continuar tendo grandes jornais, que é o estímulo à concentração de verbas de publicidade em grandes empresas. As agências de publicidade ganham polpudas comissões e bonificações por concentrarem a maior parte dos recursos de seus clientes em meia dúzia de grandes empresas de comunicação. É bem diferente do que acontece em outros países, mas é uso e costume no Brasil.
É certo que ninguém abaixo de 25 anos compra jornal. Por outro lado, nenhum leitor fiel de jornal aos 50 anos de idade vai abandonar seu hábito, se puder mantê-lo. A idade média do leitor brasileiro dos grandes jornais está acima dos 40 anos. Esses números são importantes. Indicam que não haverá captação de novos leitores.
O espaço para aumento de circulação, nas próximas três décadas, está limitado ao crescimento horizontal - fazer os tiozinhos que não compram jornal, comprar.
É por isso que todos os grandes jornais hoje têm sempre estas promoções vendendo coleções de CDs, DVDs etc. É para fazer o cinquentão que não assina jornal desembolsar uma boa grana comprando E O Vento Levou pela quinta vez. Mas a tendência é de queda da circulação. Os leitores de jornal estão morrendo e não estão nascendo novos.
Daqui a uns 30 anos vai para o beleléu o último leitor fiel de jornal, ou ele vai estar com a vista tão ruim que vai preferir a letra grande do computador, tablet ou TV - vai lá saber que outras geringonças incríveis vamos ter em 2041? Esta é a data limite, claro. É possível que o adeus venha bem antes ao jornal impresso.
Os melhores tentam se transmutar em veículos colaborativos, multiplataforma; poucos saberão fazer a transição, que é mais que urgente; estes não nos farão falta alguma. Os sobreviventes serão os que se provarem continuamente indispensáveis.
A sobrevivência do jornal exige uma transformação no método de produção do jornal. Não se trata de fazer tudo em vídeo, ou tudo “em tempo real” (o que significa isso?). É simples, na teoria, e muito difícil de implementar, na prática. Mas não há tarefa mais importante para os colegas que trabalham em jornais. Assunto para amanhã.
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